sexta-feira, 22 de maio de 2009

desumanidade.

"Quando olho para mim mesmo, não gosto do que vejo. Mas quando olho para você, gosto muito menos. Os amigos desaparecem no momento exato em que você precisa deles. O mundo te machuca. As pessoas te empurram nas filas, dentro dos ônibus, nas esquinas. Tudo grita na sua cara que você não vale absolutamente nada. Quando olho para você, quando olho para mim, não posso evitar de pensar que o homem é apenas um animal que não deu muito certo. "

Caio Fernando Abreu

na distância a gente perde

"Não vou perguntar por que você voltou, acho que nem mesmo você sabe, e se eu perguntasse você se sentiria obrigado a responder, e respondendo daria uma explicação que nem mesmo você sabe qual é. Não há explicação, compreende? Eu também não queria perguntar, pensei que só no silêncio fosse possível construir uma compreensão, mas não é, sei que não é, você também sabe, pelo menos por enquanto, talvez não se tenha ainda atingido o ponto em que o silêncio basta? É preciso encher o vazio de palavras, ainda que seja tudo incompreensão? Só vou perguntar por que você se foi, se sabia que haveria uma distância, e que na distância a gente perde ou esquece tudo aquilo que construiu junto. E esquece sabendo que está esquecendo."

Caio F. Abreu

quinta-feira, 21 de maio de 2009

apenas dentro dela.

"Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: tranformara-se no símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia apenas dentro dela"


Caio Fernando Abreu

por que?

"Podia esperar de qualquer um essa fuga, esse fechamento. Mas não de você, se sempre foram de ternura nossos encontros e mesmo nossos desencontros não pesavam, e se lúcidos nos reconhecíamos precários, carentes, incompletos. Meras tentativas, nós. Mas doces. Por que então assim tão de repente e duro, por que?"


Caio Fernando Abreu

aqui.

"tão triste ir buscar lá fora o que devia estar aqui dentro"

Lygia Fagundes Telles

o dono da dor é quem sabe.

"A gente nunca pode julgar o que acontece dentro dos outros."

Caio F. Abreu

sofrendo feliz.

"Estou sofrendo de amor feliz. Só aparentemente é que isso é contraditório. Quando se sente amor, tem-se uma funda ansiedade. É como se eu risse e chorasse ao mesmo tempo. Sem falar no medo que essa felicidade não dure."

Clarice Lispector

metade perdida.

"A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro."


Caio F. Abreu

tendência otimista da memória.

"A memória tem sempre essa tendência otimista de filtrar as lembranças más para deixar só o verde, o vivo. Antigamente, sempre era melhor, ainda que não fosse. Talvez porque já esteja, lá, tudo solucionado e a gente possa se ver, no tempo, como quem vê uma personagem num livro ou filme: aconteça o que acontecer, há um fim definido, predeterminado. Essa espécie de improvisação do agora, do que está sendo moldado, causa muito mais angústia. Não temos, como no samba, a menor idéia de como será o amanhã."


Caio F. Abreu

memórias e cansaços.

"Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços."


Caio F. Abreu

paciência

"porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicídio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituímos expressões fatais como ‘não resistirei’ por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência."


Caio F. Abreu

saber olhas as coisas.

"Olha, sabe duma coisa que eu aprendi? O segredo do belo está aqui, oh. Na sua cuca, no seu olho que realmente vê, dentro de você. Se você souber olhar as coisas dum jeito mágico, tudo fica mais bonito. "


Caio F. Abreu

quando não se tem, se inventa.

“...porque fé, quando não se tem, se inventa,... para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal... Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem... sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma — sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões... envia teu Sol mais luminoso...”

Caio F. Abreu

escolhas.

"De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele."


Calrice Lispector

a cada momento tudo se perde.

"Não é saudade, porque para mim a vida é dinâmica e nunca lamento o que se perdeu - mas é sem dúvida uma sensação muito clara de que a vida escorre talvez rápida demais e, a cada momento, tudo se perde."


Caio F. Abreu

foi a que mais doeu.

"Derramei três lágrimas: a primeira escorreu pela face e perdeu-se na boca; a segunda morreu achatada contra o assoalho; a terceira caiu na tua mão. E foi a que mais doeu.''


Caio F. Abreu

e tudo, e tudo, e tudo..

'Nos últimos dias, isto é, ontem, a tristeza começou a ceder terreno a uma espécie de - digamos - abnegação. Durmo, acordo, faço coisas, leio muito. E esse vazio que ninguém dá jeito? Você guarda no bolso, olha o céu, suspira, vai a um cinema, essas coisas. E tudo, e tudo, e tudo...'

Caio F. Abreu
"Luto para não ter o pior de todos os sentimentos:
o que de nada vale nada".


Clarice Lispector

ir-remediável

"Se eu pudesse me resumir,
diria que sou irremediável".


Clarice Lispector

.

Não tenho certeza de nada,
mas a visão das estrelas
me faz sonhar.

eu sou aquela que...

'tenho frequentemente vontade de chorar, e o que em geral se reduz à vontade apenas, como se a crise se completasse no desejo. Uns dias, cheia de tédio, enervada e triste. Outros, lânguida como uma gata, embriangando-me com os menores acontecimentos. Uma folha caindo, um grito de criança, e penso: mais um momento e não suportarei tanta felicidade. E realmente não a suporto, embora não saiba propriamente em que consista essa felicidade. Caio num choro abafado, aliviando-me, com a impressão confusa de que me entrego, a não sei quem e não sei de que forma.'

Clarice Lispector

don't feel the same

"Sou feliz na hora errada.
Infeliz quando todos dançam"


Clarice Lispector

terça-feira, 12 de maio de 2009

it was worth all the while.

'Sofri, chorei, mas mesmo assim eu fui feliz.'

Caio F. Abreu

incompreensível sem ela.

'Preciso dela, amanhã de manhã. Quando o mundo continuará igual. Só que sem ela. E, portanto, um pouco mais feio, um pouco mais sujo. Mais incompreensível, e menos nobre.'

Caio F. Abreu

sábado, 9 de maio de 2009

A um ausente.

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

[b]Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.[/b]

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

(Carlos Drummond de Andrade)

'saudade é não saber..'

'Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.'

(Martha Medeiros)

saudade.

Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

(Pablo Neruda)

quinta-feira, 7 de maio de 2009

as pessoas suportam tudo.

"Eu quero a alegria, rosnou, quero porque quero o princípio do prazer, não tornaria a ouvir o sax desesperado, o seco, porque não suportaria, sim, suportaria, suportarás, as pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo..."

Caio F. Abreu

disposto e aberto.

“Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas me diga logo para que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível que estou só do que ficar à mercê de visitas adiadas, encontros transferidos. No plano REAL: que história é essa? No que depende de mim, estou DISPOSTO e ABERTO.”

Caio F. Abreu

para sempre agora..

"Se podia voltar, insistiu, para sermos felizes juntos. Eu disse que sim, claro que sim, muitas vezes que sim, e aquela voz repetiu e repetia que me queria desta vez ainda mais, de um jeito melhor e para sempre agora."

Caio F. Abreu

sorrio, então.

"Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria. Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome."

Caio F. Abreu