quarta-feira, 31 de março de 2010

virginianos.

Você é de Virgem, não? é o signo regido por Mercúrio, o planeta da inteligência, as pessoas de Virgem sempre conseguem o que querem embora no começo pareça tudo muito difícil...'

Caio F. Abreu

terça-feira, 30 de março de 2010

bolha opaca suspensa.

'E para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, suspensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali,...'


Caio F. Abreu

impulsividade.

"Estou atrás do que fica atrás do pensamento.
Inútil querer me classificar:
eu simplesmente escapulo.
Gênero não me pega mais.
Além do mais, a vida é curta demais para eu ler
todo o grosso dicionário a fim de por acaso
descobrir a palavra salvadora.
Entender é sempre limitado.
As coisas não precisam mais fazer sentido.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive
apenas do que é possível fazer sentido.
Eu não: quero é uma verdade inventada.
Porque no fundo a gente está querendo
desabrochar de um modo ou de outro.
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
" Clarice Lispector"

vazio por dentro.

'Me ocorre, essa é outra coisa que poderia dizer de mim mesmo, quisesse ser preciso, tenho um quarto vazio por dentro.'

Caio F. Abreu

nada mais.

"Deitada no ombro dele, ela via seu rosto muito próximo. Esse era o sonho, nada mais."

Caio F. Abreu

é você quem eu vejo.

"Porque quando fecho os olhos, é você quem eu vejo;aos lados, em cima, embaixo, por fora e por dentro de mim. Dilacerando felicidades de mentira, desconstruindo tudo o que planejei, abrindo todas as janelas para um mundo deserto. É você quem sorri, morde o lábio, fala grosso, conta histórias, me tira do sério, faz ares de palhaço, pinta segredos, ilumina o corredor por onde passo todos os dias. É agora que quero dividir maças, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena. É para já que preciso contar as descobertas, alisar seu peito,preparar uma massa, sentir seus cílios.“Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje?” Não quero saber de medo, paciência, tempo que vai chegar. Não negue, apareça. Seja forte. Porque é preciso coragem para se arriscar num futuro incerto. Não posso esperar. Tenho tudo pronto dentro de mim e uma almaque só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados. É preciso que você venha nesse exato momento. Abandone os antes. Chame do que quiser. Mas venha. Quero dividir meus erros, loucuras, beijos, chocolates...Apague minhas interrogações. Por que estamos tão perto e tão longe? Quero acabar com as leis da física, dois corpos ocuparem o mesmo lugar! Não nego. Tenho um grande medo de ser sozinha. Não sou pedaço. Mas não me basto."


Caio F. Abreu

meu céu.

"E fico sentindo falta do teu jeito lento de chegar, pisando em nuvens, sempre azul."

Caio F. Abreu

ainda mais claras agora.

'...dizer a ele que voltariam as manhãs, ainda mais claras agora que estávamos juntos'

(Caio F. Abreu)

nunca.

"Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus. "

Tati Bernardi

nesse exato momento.

'Tenho tudo pronto dentro de mim e uma alma que só sabe viver presentes. Sem esperas, sem amarras, sem receios, sem cobertas, sem sentido, sem passados. É preciso que você venha nesse exato momento.'

(Caio F. Abreu )

agradeço.

'Então eu agradeço, eu tenho medo e espanto e terror e ao mesmo tempo maravilhamento e outras coisas com e sem nome, mas agradeço. Aos deuses dos jardins, aos deuses dos homens, aos deuses do tempo e até aos das ervas daninhas que nos fazem lutar feito tigres feridos fundo no peito, sim, eu agradeço. '

(Caio F. Abreu)

pelo menos isso..

'Oh Deus, eu que já fui muito ferida. Mas quanta gente tenho pelo que agradecer. Só não cito os nomes para não ferir o pudor de quem eu citasse.Tenho recebido olhares que valem por uma reza. E há quem já tenha feito promessa por mim. E eu? Vou tentar rezar agora mesmo, despudoradamente em público. É assim: -Meu Deus - não, é inútil, não consigo. Mas talvez dizer "Meu Deus" já seja uma reza. Há, porém, um pedido que posso fazer e farei agora mesmo: Deus, fazei com que os que eu amo não me sobrevivam, eu não toleraria a ausência. Pelo menos isso eu peço.'

(Clarice Lispector)

tanto.

"É fácil, basta você querer, eu ainda quero tanto."

(Caio F. Abreu)

segunda-feira, 29 de março de 2010

astralmente impossível.

"Não quero nunca me perder de você (...) astralmente impossível."

(Caio F. Abreu)

imperecível.

"O que a memória ama, fica eterno.
Te amo com a memória, imperecível."

Adélia Prado

preciso de menos.

'Eu preciso aprender a ser menos. Menos dramática. Menos intensa. Menos exagerada. Alguém já desejou isso na vida: ser menos? Pois é. Estranho. Mas eu preciso. Nesse minuto, nesse segundo, por favor, me bloqueie o coração, me cale o pensamento, me dê uma droga forte para tranqüilizar a alma. Porque eu preciso. E preciso muito. Eu preciso diminuir o ritmo, abaixar o volume, andar na velocidade permitida, não atropelar quem chega, não tropeçar em mim mesma. Eu preciso respirar. Me aperte o pause, me deixe em stand by, eu não dou conta do meu coração que quer muito. Eu preciso desatar o nó. Eu preciso sentir menos, sonhar menos, amar menos, sofrer menos ainda. Aonde está a placa de PARE bem no meio da minha frase? Confesso: eu não consigo. Nada em mim pára, nada em mim é morno, nada é pouco, não existe sinal vermelho no meu caminho que se abre e me chama. E eu vou... Com o coração na mochila, o lápis borrado, o sorriso e a dúvida, a coragem e o medo, mas vou... Não digo: "estou indo", não digo: "daqui a pouco", nada tem hora a não ser agora. Existe aí algum remedinho para não-sentir? Existe alguma terapia, acupuntura, pedras, cores e aromas para me calar a alma e deixar mudo o pensamento? Quer saber? Existe. Existe e eu preciso. Preciso e não quero.'


Fernanda Mello

domingo, 28 de março de 2010

"Eu te amo – disse ela com ódio ao homem, cujo crime impunível que cometera era o de não querê-la".

(Clarice Lispector)

por que me deste todos esses sonhos muito maiores do que eu?

'Eu não sabia, Senhor, que o mundo era tão vasto e doloroso. E que, desejando a vastidão do mundo, meu coração conheceria também a vastidão da dor. Por que, Senhor meu, permitiste que eu tentasse fugir da minha pequenez? Por que me deste todos esses sonhos muito maiores do que eu?'

(Caio Fernando de Abreu In: Teatro Completo )

sonho.

'Não tenho certeza de nada,
mas a visão das estrelas
me faz sonhar.'

(Vincent Van Gohn)

te desejo..

“Gostaria de te desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes.E que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade!”

(Carlos Drummond de Andrade)

tudo cinza..

"Quando Pedro voltou, estava anoitecendo. E foi como se todas as luzes da casa se acendessem ao mesmo tempo.
(…)
Os dias se interrompiam quando ele ia embora. Recomeçavam apenas no mesmo segundo em que tornava a chegar.
Não sei quanto tempo durou. Só comecei a contar os dias a partir daquele dia em que ele não veio mais.
Desde esse dia, perdi meu nome. Perdi o jeito de ser que tivera antes de Pedro, não encontrei outro.
Eu queria que voltasse, não conseguia viver outra vez uma vida assim sem Pedro.
(…)
Parei de ser e de fazer qualquer outra coisa além de esperar que ele voltasse.
Mas Pedro não voltou, eu não voltei.
As luzes da casa nunca mais tornaram a acender com sua chegada."

(Caio F. Abreu in “Onde andará dulce veiga”)

quando o coração ficou inteiramente gelado..

'Teria mesmo chegado ao ponto de dizer nutro? Teria, teria sim, teria dito nutro e relacionamento e rompimento e afeto, teria dito também estima e consideração e mais alto apreço e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado.'

(Caio F. Abreu in “Os Dragões não Conhecem o paraíso”)

porque doía..

'Devagar, as mãos se tocavam: a tua é tão longa, a tua tão quadrada. Ele não queria entrar noutra história, porque doía. Ela não queria entrar noutra história, porque doía. Ela tinha assumido seu destino de Mulher Totalmente Liberada Porém Profundamente Incompreendida E Aceitava A Solidão Inevitável. Ele estava absolutamente seguro de sua escolha de Homem Independente Que Não Necessita Mais Dessas Bobagens De Amor.'

(Caio F. Abreu in: Mel e Girassóis – Os Dragões não Conhecem o paraíso)

menos dolorosos..

'porque o silêncio e a imobilidade foram dois dos jeitos menos dolorosos que encontrei, naquele tempo, para ocupar meus dias.'

(Caio F. Abreu in “Os Dragões não conhecem o paraíso)

sozinho.

"Eu sofro sendo assim, eu sofro porque, quando você acha mais da metade do mundo babaca, você passa muito tempo sozinho".

(Tati Bernardi)

deixa pintar..

'O que quero dizer é justamente o que estou dizendo. Não estou com pena de mim. Tá tudo bem. Tenho tomado banho, cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite. Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: it’s all right man, I’m just bleeding. Tá limpo. Sem ironias. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar.'

(Caio F. Abreu)

nada por conveniência.

" É difícil me iludir, porque não costumo esperar muito de ninguém. Odeio dois beijinhos, aperto de mão, tumulto, calor, gente burra e quem não sabe mentir direito. Não puxo saco de ninguém, detesto que puxem meu saco também. Não faço amizades por conveniência, não sei rir se não estou achando graça, não atendo o telefone se não estou com vontade de conversar. "

(Caio F. Abreu)

é um veneno medonho.

'O amor jamais foi um sonho, o amor, eu bem sei, já provei, é um veneno medonho.
É por isso que se há de entender que o amor não é ócio, e compreender que o amor não é um vício, o amor é sacrifício, o amor é sacerdócio.'

Chico Buarque

tudo é uma questão de...

'Tudo é questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo. '

(Walter Franco)

vazio que ninguém (pre)enche.

"Sinto uma falta absurda de você. Ficou um vazio que ninguém (pre)enche. e penso e repenso e trepenso em você aí. (...) Tá tudo bem assim. Só que me rouba o sentido - entende? - ou a ilusão de sentido que quero ter de vida, e que é essencial para a minha sobrevivência. (...) Me sinto o camelo do poema de Cecília Meireles, mastigando sua imensa solidão".

(27-01-1987, carta de Caio F. para Sérgio Keuchgerian - de Caio Fernando Abreu - Cartas, organizado por Italo Moriconi, p. 147)

é melhor assim.

"Chorar de compreensão meio estúpida pela perdição humana, pela nossa fragmentação, pelas nossas tentativas frequentemente tão inábeis, mas tão sinceras também, de "acertar", de fazer as coisas "do melhor jeito".

(29-10-1984, carta de Caio F. para Maria Adelaide Amaral - de Caio Fernando Abreu - Cartas, organizado por Italo Moriconi, p. 147)

sempre.

"Às vezes sinto falta de mim.
-Eu também, menina.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.
[Silêncio]
-Me abraça?
-Sempre."


(Caio Fernando Abreu)

às vezes o amor que se dá pesa..

"Farei o possível para não amar demais as pessoas, sobretudo, por causa das pessoas. Às vezes o amor que se dá pesa, quase como uma responsabilidade na pessoa que o recebe. Eu tenho essa tendência geral para exagerar, e resolvi tentar não exigir dos outros senão o mínimo. É uma forma de paz...
Também é bom porque em geral se pode ajudar muito mais as pessoas quando não se está cega de amor."

(Clarice Lispector)

passa. passará.

'Acendi um incenso.
No rádio, Chico canta Vai passar.
Sim, vai passar. Passa. Passará.'

(Caio F. Abreu)

e revigora..

"Eu sempre acho que cansei de ti, de mim, mas ai vem o amor e revigora."

(Caio F. Abreu)

quarta-feira, 24 de março de 2010

dever de sonhar.

'Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis.'

(Fernando Pessoa)

me ajude..

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios da tua presença
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude

Faça com que eu seja a tua amante humilde
entrelaçada a ti em êxtase
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala
Faça com que eu tenha a coragem de te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo
Faça com que a solidão não me destrua
Faça com que minha solidão
me sirva de companhia

Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir como se estivesse
plena de tudo
Receba em teus braços o meu pecado de pensar

Clarice Lispector

querer.

Não te quero senão porque te quero
E de querer-te a não querer-te chego
E de esperar-te quando não te espero
Passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
Te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
E a medida de meu amor viageiro
É não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
Seu raio cruel, meu coração inteiro,
Roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
E morrerei de amor porque te quero,
Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.

(Pablo Neruda)

se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços…

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca… o eco dos teus passos…
O teu riso de fonte… os teus abraços…
Os teus beijos… a tua mão na minha…

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca…
Quando os olhos se me cerram de desejo…
E os meus braços se estendem para ti…

(Florbela Espanca)

amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

(Florbela Espanca)

saudades

Saudades! Sim... Talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

(Florbela Espanca)

inconstância

Procurei o amor que me mentiu.
Pedi à Vida mais do que ela dava.
Eterna sonhadora edificava
Meu castelo de luz que me caiu!

Tanto clarão nas trevas refulgiu,
E tanto beijo a boca me queimava!
E era o sol que os longes deslumbrava
Igual a tanto sol que me fugiu!

Passei a vida a amar e a esquecer…
Um sol a apagar-se e outro a acender
Nas brumas dos atalhos por onde ando…

E este amor que assim me vai fugindo
É igual a outro amor que vai surgindo,
Que há de partir também… nem eu sei quando…

(Florbela Espanca)

let it be.

'O amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.'

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 22 de março de 2010

aconteceu, acontece.

"Inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar um das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal. Que acontecia também com outras pessoas. E que iria passar."

(Caio F. Abreu)

acho que fiz bem.

"Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas que me diga logo pra que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível que estou só do que ficar a mercê de visitas adiadas, encontros transferidos. No plano REAL: que história é essa? No que depende de mim, estou disposto & aberto. Perguntei a ele como se sentia. Que me dissesse. Que eu tomaria o silêncio como um não e ficaria também em silêncio. Acho que fiz bem."

tá tudo bem.

'O que quero dizer é justamente o que estou dizendo. Não estou com pena de mim. Tá tudo bem. Tenho tomado banho, cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite. Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre. Dá licença, Bob Dylan: it’s all right man, I’m just bleeding. Tá limpo. Sem ironias. Sem engano. Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada, não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade, a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta, mais infernal também, pode ser, deixa pintar. Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?), até aproveito e não faço tanta besteira. Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular. Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados. A gente só fica assim. Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo, lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu.'

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 18 de março de 2010

falta.

"Fiquei feliz em poder sentir tua falta, - a falta mostra o quão necessitamos de algo/alguém. É assim o nosso ciclo. Eu te preciso."

(Caio F. Abreu)

terça-feira, 16 de março de 2010

na distância tudo se perde..

"Talvez o mal é que a gente pede amor o tempo todo.
Não se preocupa nunca em dar amor, sem esperar reciprocidade. O meu livro está cheio de dedicatórias. Quando eu escrevo alguma coisa que sai de dentro, lá do fundo, dilacerada, e eu dedico a alguém, eu dou tudo aquilo que eu vivi, que eu senti, pra essa pessoa. Muitas vezes eu não tive nada em troca. Então eu me senti profundamente frustrado, porque eu esperava receber alguma coisa.
A Magliani viveu quase dois anos, única e exclusivamente em função de mim, e eu não percebi isso. Eu só fui perceber que tinha amor quando fiquei longe dela. Assim mesmo, percebi isso vagamente, e voltei também vagamente por causa disso.
Eu perdi, eu tenho consciência absoluta de que eu perdi a oportunidade de amor mais viva e mais profunda que me foi oferecida até hoje. E agora eu não posso fazer mais nada. A gente tá se perdendo todos os dias, pedindo pra pessoas erradas. Mas o negócio é procurar. A gente não se recusar a se entregar a qualquer tipo de amor ou de entrega. Eu nunca vi por que evitar a fossa. Se a fossa veio é por ela tinha que vir. O negócio é viver ela e tentar esgotar ela.
A gente, quando tenta analisar qualquer problema, sempre vai aprofundando, aprofundando, até que chega nesse fundo que é amor sempre.
Eu consigo me expressar muito melhor escrevendo do que falando. Tem um negócio que eu escrevi aqui nesse conto, é um conto chamado "Apenas uma maçã": porque é certo que as pessoas estão sempre crescendo e se modificando, mas estando próximas, uma vai adequando seu crescimento e a sua modificação ao crescimento e à modificação da outra. Mas estando distantes, uma cresce e se modifica num sentido e a outra noutro, completamente diferente, distraídas que ficam da necessidade de continuarem as mesmas uma para a outra.
Uma pessoa quando tá longe vive coisas que não te comunica e tu aqui vive coisas que não comunica a ela. Então vocês vão se distanciando e quando vocês se encontram, vocês vão falar assim: oi, tudo bom e tal, como é que vão as coisas? E aí ele vai te falar por cima de tudo o que ele viveu e, não sei, vai ser uma proximidade distante. Não adianta, no momento que as pessoas se afastam elas estão irremediavelmente perdidas uma pra outra.

A gente sempre procura um amor que dure o mais possível. Procura, procura, talvez tu aches. Pra mim é horrível eu aceitar o fato de que eu tô em disponibilidade afetiva.Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, às vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo, porque não agüenta o fato de estar sozinho.
Eu me sinto superfeliz quando encontro uma pessoa tão confusa quanto eu."

In: Caio 3D: o essencial da década de 1970.

imensamente.

"Quis morrer de novo, engoli outra rejeição — mas estou vivo e, sinto muito, vou continuar. Te quero imensamente. Meu coração bate forte."

(Caio F. Abreu)

quarta-feira, 10 de março de 2010

porque dói nela..

"O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano."

Mia Couto

Ela quer saber o que fazer pra parar a dor. Eu não sei. Sei que a mesma chuva que alaga é a que fertiliza poemas, que desata os choros, que prolonga aquele encontro ou o impede. A mesma chuva que me torna introspectiva e preguiçosa é a que enche minhas pétalas de gotinhas tão perfeitas que nutre uma sede absurda que nasci tendo. E quando faz sol, eu me amplio toda e fico ali, crestando, me retorcendo de prazer ouvindo aquele barulhinho delicado e sutil da umidade se ausentando. E deixo, deixo mesmo que a luz entre e transborde o meu solzinho interno, aquele do meu plexo perto do coração, pra que meu olhar se encha de faisquinhas de vida novamente, de mais fome de tudo.

Quando dói em mim, eu deixo. Deixo doer até a última gotinha de água salgada. Depois ela se vai. A dor não quer outra coisa que não seja exercer sua função: doer. E não é banalizando, embotando as emoções que ela vai deixar de surgir de tempos em tempos. Não sei como dói em você, mas por saber como dói a minha dor eu imagino a sua: de tão abstrata incomoda fisicamente, de tão ignorada ela se humaniza...em nós. No que eram laços.

Deixe doer o que for honesto.Deixe alagar seus olhos de chuva, escorrer pelo seu rosto e traçar caminhos sinuosos ou retas perfeitas como fazem os rios. A dor só quer te lembrar que há vida naquilo que você rejeitou porque compunha um outro extremo do que imaginamos ser a felicidade. Ela quer que você adquira sabedoria experimentando a totalidade...

(Acho que o que mais dói na dor, é porque ela nos deixa tristes).

(Marla de Queiroz)