segunda-feira, 31 de outubro de 2011

‎"eu sentia profunda falta de alguma coisa que não sabia o que era. sabia só que doía, doía. sem remédio. (...) 'il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente' (...) para seu próprio bem guarde este recado: alguma coisa sempre faz falta. Guarde sem dor, embora doa, e em segredo." (Caio F. Abreu; Existe sempre uma coisa ausente.)

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Desde então, tenho uns agostos por dentro, umas febres. Uma tristeza que nada nem ninguém conserta. É assim que se começa a partir?
(Agostos por dentro, in: Pequenas Epifanias)
Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se ou lamuriar-se, e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína, se a barra pesar, vinhos, conhaques — tudo isso ajuda a atravessar agosto.
(Sugestões para atravessar agosto, in: Pequenas Epifanias)
Chorar de compreensão meio estúpida pela perdição humana, pela nossa fragmentação, pelas nossas tentativas freqüentemente tão inábeis, mas tão sinceras também, de “acertar”, de fazer as coisas “do melhor jeito”;
(Carta a Adelaide Amaral. Sampa, 29 de outubro de 1984)
Estou cada vez mais bossa-nova, espiritualmente sentado num banquinho, com o violão no colo. Deus, como eu quero paz, Zézim.
(Carta a José Márcio Penido. SP, 2 de novembro de 1990.)
Mas o que houve — o tropeço, o solavanco, o esbarrão, a tosse no meio da área lírica —, o que houve foi um pensamento impiedoso e exatamente assim: não faço parte disso.
Não uma dúvida, mas uma certeza. Absoluta.
Sem inveja nem mágoa, revolta ou vontade furiosa de que pudesse ser de outra forma. Secamente, definitivamente, eu não fazia parte daquilo. (…) Por razões que não sei explicar; e nem precisariam tentar ser explicadas porque eram e, pior, continuam sendo completamente indiscutíveis.
Eu não fazia parte, e pronto.
(Caio Fernando Abreu. Agostos por dentro, in: Pequenas Epifanias)
Mas tão, tão modesto. Assim, sa’s, uma PUTA expectativa cercada por todos os lados de desilusão. Que nem calda de chocolate em bolo. Só a casquinha. Já não dói muito. Assisto como a um filme onde só por acaso sou personagem.
(Carta a Jacqueline Cantore. Safe Sampa, 24 de fevereiro de 1988.)
Preciso tomar ar, fingir que sou normal & tenho um profundo interesse pelas pessoas e acontecimentos culturais e todas essas estonteantes possibilidades urbanas.
(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)