"Estou atrás do que fica atrás do pensamento.
Inútil querer me classificar:
eu simplesmente escapulo.
Gênero não me pega mais.
Além do mais, a vida é curta demais para eu ler
todo o grosso dicionário a fim de por acaso
descobrir a palavra salvadora.
Entender é sempre limitado.
As coisas não precisam mais fazer sentido.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive
apenas do que é possível fazer sentido.
Eu não: quero é uma verdade inventada.
Porque no fundo a gente está querendo
desabrochar de um modo ou de outro.
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
" Clarice Lispector"
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