O romancista Salman Rushdie afirma que o eu moderno é "um edifício instável que construímos com dogmas, mágoas de infância, artigos de jornal, observações casuais, velhos filmes, pequenas vitórias, pessoas odiadas, pessoas amadas". Para ele, a narrativa de uma vida aparece como uma colagem, uma montagem do acidental, do encontrado e do improvisado.
A psique permanece num estado de interminável vir a ser - um eu jamais acabado. Nessas circunstâncias, não pode haver uma narrativa de vida coerente, um momento esclarecedor de mudança iluminando o todo...
Essas visões de narrativa, às vezes chamadas "pós-modernas", refletem na verdade a experiência do tempo na moderna economia política. Um eu maleável, uma colagem de fragmentos em incessante vir a ser, sempre aberto a novas experiências - essas são as condições adequadas à experiência de trabalho de curto prazo, a instituições flexíveis e ao constante correr de riscos.
Da mesma maneira, as pessoas podem sofrer de superficialidade ao tentar ler o mundo em torno delas e a si mesmas. As imagens de uma sociedade sem classes, com uma maneira comum de falar, vestir e ver, também pode servir para esconder diferenças mais profundas; numa determinada superfície, todos parecem estar em um plano igual, mas abrir a superfície pode exigir um código que as pessoas não têm. E se o que elas sabem sobre si mesmas é fácil e imediato, talvez seja demasiado pouco...
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